FORTALEZA MARINHOA
Acordase de um inverno rigoroso no prado.
Na solidão amarga de um copo ao borralho, esperguiçando as peles,
os "pilares da terra" bordejam a Laguna e preparam o gado.
Emparelhará o sonho deles...
Inverno frio. Resguardado.
Pachorrento, amanhecido. Estábulo quentinho no bafejar,
o castanho palha ressurge a cada primavera
e renovamse odisseias no mourejar
Hãode suportar estoicamente o amanho, a lida, a dureza da luta
"A postes", homens e gado.
Fortes braços, alfaias antigas. E dos bois, a força bruta
Puxa carroça, grade e arado. Fortaleza e mansidão Marinhoa,
Sob a canga vareira, enfeitada, uma raça de olhar submisso
Estala o zunir da vara, acutilante, que no jugo soa...
Dançam trevos sob a charrua, saramagos e junça, chegando Março
Lavramse as correntes de um chão arenoso e alagadiço
enriquecido em odes de leivas e de escaço
em limos salgado, em rimas de moliço ...
Arase o campo e o tempo. Não há permissa ao ócio
Gredamse. Semeiamse os campos murtoseiros
Aconchegamse à terra que lhes dará pão
Chega a hora da merenda.
Os dias são grandes
De festa e de serão...
Conceição Oliveira In "Os Pilares da Murtosa"